2021 - 2024
“É preciso estarmos juntos na organização da Sociedade Civil, não só no nosso setor, mas também em todos os demais, participando e fazendo a diferença na sociedade.”
Marcelo Bertoni assumiu a presidência da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul em um panorama ainda bastante impactado pelos efeitos devastadores da Covid-19 na saúde, na economia e demais setores diretamente comprometidos pela pandemia no estado e no país. Por consequência, a cerimônia de posse da nova diretoria aconteceu no dia 17 de agosto de 2021, em formato híbrido, com transmissão ao vivo pelo canal do Sistema Famasul no YouTube, ocasião em que foram respeitados todos os protocolos de biossegurança exigidos pelas autoridades sanitárias.
Durante o triênio anterior, Marcelo Bertoni foi diretor-tesoureiro, em uma gestão prévia reconhecida pelo engajamento contínuo em direção à (re)estruturação, resolução de demandas e ampliação das cadeias produtivas do estado. Agora, na posição de presidente da Federação, o produtor rural mantém ao seu lado como vice-presidente, aquele que havia sido o seu dirigente e mentor nos anos anteriores, Mauricio Saito, além do diretor-tesoureiro, Frederico Stella e do diretor-secretário, Claudio George Mendonça.
Com perfil de liderança humanizado, transparente, arrojado e delegativo, em que atribui as responsabilidades baseadas na confiança e no compromisso de cada pessoa envolvida nas ações planejadas e executadas pela Federação, os pilares de sua gestão estão soerguidos no fortalecimento institucional, na qualificação de homens e mulheres rurais e na sustentabilidade no campo, com vistas à aceleração da competitividade de Mato Grosso do Sul frente a outros mercados, acrescido de melhores práticas de governança, além do encorajamento do espírito de coletividade nessa fase de retomada da economia no período de pós-pandemia.
Em 1989, o presidente da Famasul iniciou as suas atividades como produtor rural, ao administrar a sua propriedade, fruto da herança de seu bisavô. Entre os anos de 1994 e 1995, Marcelo Bertoni foi um dos fundadores do MNP (Movimento Nacional dos Produtores) e de 2008 a 2010, foi diretor-secretário da ACRIVAN (Associação dos Criadores do Vale do Aquidaban e Nabileque).
“Eu comecei a minha vida pública, na defesa das pautas do produtor rural, em torno dos meus 21 anos, na MNP Jovem, que operava dentro do Sindicato Rural de Campo Grande. Como a minha propriedade rural ficava na nascente do Rio Formoso, em Bonito, fui impelido a entender as questões técnicas, ambientais e fundiárias que envolvem o nosso setor produtivo. Começou como uma questão pessoal e acabou se tornando uma questão coletiva. Hoje, é mais coletiva do que pessoal”, constatou Marcelo Bertoni.
No entanto, anos antes de ingressar em entidades de classe, o presidente da Famasul, ainda na tenra idade, já convivia no campo, junto ao pai, o médico Flávio Bertoni (in memorian), com a diversidade de ideias, ao acompanhá-lo no atendimento a famílias indígenas em situação de vulnerabilidade da região. Bertoni recorda que, desde então, esteve presente na resolução de conflitos de cunho fundiário. Um desses episódios foi destaque em manchetes de jornais de grande circulação nacional, a exemplo da Folha de São Paulo e Correio Braziliense que noticiaram o conflito, registrado entre os dias 1 e 3 de julho de 1985.
“Existia um arrendamento em uma área indígena Kadiwéu, conhecida por aldeia São João, em Bodoquena, de uso permitido pela Funai. Durante quase 40 anos, havia a existência desse intercâmbio. O meu pai era médico e atendia a muitos indígenas da nossa convivência próxima. Portanto, havia uma boa relação nossa com os índios Kadiwéu naquela época. Meu pai arrendava uma das áreas e eu permeava tudo ali naquela região. Certa vez, em um episódio histórico, os índios prenderam o Italívio Coelho Neto (ex-presidente do Sindicato Rural de Porto Murtinho). Eu fui o único homem branco que teve a entrada permitida para retirá-lo de lá, pois nós mantínhamos uma proximidade muito grande com aquela comunidade”, recordou o presidente da Famasul.
Marcelo Bertoni possui uma visão global, humanista e assertiva sobre as questões fundiárias, um dos gargalos que interferem diretamente no desenvolvimento socioeconômico e no aumento da produtividade em Mato Grosso do Sul. “Eu conheço a realidade e entendo que é preciso resolver o problema dos dois lados: tanto do produtor invadido quanto do próprio indígena que está naquela situação difícil. Eu sempre cito a questão da aldeia entre Dourados e Itaporã. Não há a menor possibilidade de impedir que esses índios deixem de produzir nas terras que são deles. Eles precisam começar a trabalhar a fim de cumprir a sua função social, que é produzir e não ficar ali, inertes, à margem da sociedade. É indispensável mudar essa concepção. O indígena deve trabalhar de forma que traga benefício para a própria comunidade. Sendo assim, um pai não deve ficar parado, mas ser um exemplo positivo para o seu filho”, analisou com clareza.
Entre 2011 e 2016, Marcelo Bertoni exerceu o cargo de diretor-presidente no Sindicato Rural de Bonito, sendo vice-presidente de 2017 a 2019, delegado e representante efetivo como o 1° secretário até 2021. Segundo a sua visão, esse período representou um longo e, por vezes, doloroso processo de luta e aprendizagem, já que os produtores rurais situados na região de Bonito, município reconhecido internacionalmente pelas belezas naturais e sua biodiversidade, tiveram de lidar, à época, com a desinformação acerca da realidade socioambiental local, somada à tentativa de manipulação da opinião pública, não a favor do interesse público, mas de agendas restritas (como a pretensão do aumento da arrecadação municipal mediante o recebimento de ICMS Ecológico) que poderiam fatalmente comprometer e até mesmo paralisar as atividades do agronegócio naquela região.
“Muitas vezes, acusavam o produtor rural (que não era o culpado) por problemas ambientais causados, na verdade, por questões sanitárias ou decorrentes da falta de drenagem no município. Com posicionamento firme e participando das discussões, nós mudamos isso. Hoje, temos uma ONG dentro do Sindicato que é o IASB (Instituto das Águas da Serra de Bodoquena). Onde se imaginou um dia que uma ONG ambiental estaria dentro de um sindicato rural? Isso só foi possível graças aos alinhamentos que fizemos lá atrás, quando plantamos uma semente do entendimento. Hoje é o Doretto que está lá (presidente do Sindicato Rural de Bonito, Jefferson Doretto de Souza). Sigo sendo diretor, junto à ONG que visa proteger a biodiversidade local e em consonância de ideias. Desde bares e restaurantes a hotéis: todos falamos a mesma língua para a melhoria do município”, enfatizou.
Com forte atuação nas pautas voltadas à sustentabilidade, Bertoni foi eleito titular da Câmara Técnica de Conservação de Solo e Água, da Comissão Nacional de Meio Ambiente, do Comitê Estadual do Conselho Nacional da Reserva da Biosfera do Pantanal, do Conselho Estadual de Controle Ambiental (CECA) e da Frente Parlamentar de Unidade de Conservação. Compõe o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Miranda (CBH-Miranda), o Conselho Consultivo do Parque Nacional da Serra da Bodoquena (CCPNSB), e o Conselho Municipal de Meio Ambiente de Bonito (CONDEMA).
“Ao fazer parte dessas entidades, pude comprovar que o agronegócio passa a ter mais força em todos os espaços de discussão, pois as pessoas conhecem melhor o nosso setor. Isso desmistifica a visão de que o produtor rural é ignorante e avesso ao diálogo. A mudança acontece a partir do momento em que se começa a ter relacionamento com todas as autoridades (eu tenho um bom relacionamento com vários promotores, delegados, entre outros, justamente por causa dessa participação efetiva). Durante as discussões, conseguimos que os recursos fossem direcionados de maneira a contribuir para a sociedade, a exemplo da polícia ambiental (PMA). Trata-se de uma nova concepção quando olham e dizem: ele é um produtor e tem um pensamento diferente.”
Durante muitos anos, a participação de Bertoni em diversos conselhos da Sociedade Civil se fez rotina em sua vida pessoal diária. “Foi uma época em que participei de conselhos de manhã, à tarde e à noite, em Bonito. Isso foi muito importante. Você começa a entender mais e a diminuir os ímpetos. Constatei que, em uma roda de discussão, não somos inimigos, nós podemos ter pensamentos diferentes em alguns momentos, visões diferentes, mas sentamos, conversamos e até brigamos na mesa, mas na hora de levantar, rimos e vamos tomar um café depois. Hoje eu mantenho fortes amizades com pessoas que tinham pensamentos muito diferentes do meu.”
Ao tomar posicionamentos firmes e propositivos nas reuniões dos conselhos e audiências públicas nas quais participava, Bertoni corrobora que foi preciso desenvolver muito autocontrole para não se deixar levar pela emoção. “Quem me conhece há muitos anos, sabe que eu sempre fui um cara muito reativo. Até os 19 anos, eu era gago, nervoso. Eu tive de aprender a mudar. E foi um sofrimento muito grande naquela época em Bonito. Houve uma ocasião em que eu estive dentro do Centro de Convenções com cerca de 600 pessoas me vaiando ao mesmo tempo. Outra vez, a colega da minha filha falou, em sala de aula, que o pai dela estava destruindo Bonito, pois eu era produtor rural, era do sindicato. Ela chegou chorando em casa. Porém, sabia que se eu saísse dando canelada em todo mundo não iria construir algo positivo. Não falo que hoje eu sou mansinho. Mas tenho amigos que se surpreendem e falam que eu não sou o Marcelo que eles conheceram no passado”, relembra, ora consternado, ora entre risos, embora enfatize que é preciso enxergar o todo e as demais classes para entender um pouco melhor a realidade à sua volta.
Ao final do triênio conduzido por Mauricio Saito (2018-2021), Marcelo Bertoni, que era o diretor-tesoureiro da gestão, rememorou o fato de que Luís Alberto Moraes Novaes, conhecido entre os mais próximos como Mandi, vice-presidente à época, era para ser o escolhido a fim de liderar a Famasul no triênio vigente. Entretanto, conforme esclareceu, os caminhos de sua vida o direcionaram para que ele fosse eleito em votação histórica, por intermédio de um pleito virtual, com a participação de 67 sindicatos rurais do estado.
“Era para o Mandi, meu amigo, ter sido eleito presidente da Famasul. No meu entendimento, aquele não era o momento para mim, pois a minha esposa havia recebido, pouco tempo antes, um diagnóstico de câncer de mama. Eu não queria assumir a Federação em meio àquele contexto e entendia que ainda não era a minha vez. Porém, houve mudança cerca de dois meses antes da eleição. Àquela altura, eu havia pensado em recusar, mas o Mauricio (Saito) foi quem me incentivou demais a assumir a Famasul. Eu me achava muito cru, precisava cuidar mais da minha casa e da minha mulher. Então foi uma decisão muito difícil para mim”, revelou Bertoni, ao recordar sobre aceitar essa grande responsabilidade.
Bertoni relata que abraçou o desafio, depois de uma conversa com a família, do apoio incondicional à sua candidatura pelo setor e do escopo de Mauricio Saito que, pela primeira vez na história da Federação, um ex-presidente da Casa permaneceu na diretoria como vice-presidente. A parceria, amizade duradoura, união e colaboração renderam frutos salutares nesta nova fase. “Hoje, estamos em mais de 160 colegiados e conselhos. Conseguimos colocar os nossos técnicos em praticamente todos os municípios do estado. Participamos de mais de 50 conselhos que discutem pautas sobre meio ambiente e desenvolvimento nesses municípios. Acredito que seja de fundamental relevância a nossa atuação nas decisões cruciais para as pessoas e o estado. É preciso estarmos juntos na organização da Sociedade Civil, não só no nosso setor, mas também em todos os demais, participando e fazendo a diferença na sociedade.”
A participação ostensiva em conselhos e audiências públicas formataram Marcelo Bertoni para que, igualmente, mantivesse proximidade às ações técnicas, projetos sociais e qualificações oferecidas pela Famasul/ Senar MS junto ao público, desde a época em que estava na posição de diretor-tesoureiro. Com objetividade, o presidente da Federação afirma que sempre quis saber o que estava acontecendo ao seu redor. “O bom é inimigo do ótimo, mas é melhor do que o nada. Quando temos conhecimento daquilo que impacta direta e indiretamente o nosso setor, evitamos um desgaste maior no futuro. Às vezes, nem tudo é do jeito que a gente quer, mas é o possível naquele momento.”
Bertoni assumiu a liderança sempre com posicionamentos claros sobre os assuntos que eram colocados nas pautas das reuniões. “Eu nunca fui um cara de ficar em cima do muro. Sempre tive lado. Eu levo comigo o conselho que o Seu Adão Manveiller (dono do frigorífico Franca, de Bonito) me dizia no passado: seja duro, porém macio. Como isso é possível, já que são opostos? A gente vai tentando”, relata com bom humor.
Acerca do perfil gerencial, o presidente da Famasul assinala a sua personalidade mais calorosa e próxima dos colaboradores e produtores rurais. “Eu sou um cara acessível, que tem essa visão mais humana da coisa. Todos os ex-presidentes atuaram pelo coletivo, pois ninguém aqui é presidente se não for pelo coletivo. Alguns mais técnicos que outros, mas cada um com o seu posicionamento quanto à administração. Pelo menos, essa é a percepção que tenho aqui.”
Um dos momentos emblemáticos que marcaram a sua memória na Famasul, aconteceu quando Marcelo Bertoni ainda era diretor-tesoureiro. “Eu tenho a consciência de que o Senar faz milagres em muitos aspectos, por isso eu sou um defensor ferrenho da instituição. Houve uma premiação do Agrinho, em Douradina (2019), em que uma pequena indiazinha, magrinha, com sinais de restrição alimentar, escreveu uma redação em que defendia o produtor rural. Aquilo me emocionou demais. Isso é o que temos que fazer. Ao receber a medalhinha, eu vi a alegria e o sorriso estampado em seu rosto. Esse momento me tocou e me toca até hoje. Nós temos que fazer isso: propor uma mudança da sociedade, ajudar as pessoas a saírem da bolha. Ali eu percebi que tínhamos um potencial imenso de mudar a vida de quem vive no campo.”
Em 2021, com o avanço da campanha de vacinação para a imunização da população contra a Covid-19, a retomada da economia aconteceu de maneira evidente. Com o panorama favorável, o agronegócio de Mato Grosso do Sul gerou resultados positivos, ao se destacar na produção e exportação das principais cadeias do setor, tendo a China como o maior destino dos insumos sul-mato-grossenses, com 48% da participação de receita e registro de aumento de 14,3% em relação à 2020.
Nesse período, a Federação se reorganizou. Houve o aumento em 25% do quadro de funcionários e novos benefícios voltados à qualidade de vida e saúde, além de obras e reformas para melhorias nos prédios na Casa Rural e Centro de Excelência em Bovinocultura de Corte. Mediante a contenção do coronavírus e o subsequente relaxamento das restrições sanitárias, aconteceu a reabertura dos programas e projetos do Sistema Famasul e do Senar MS direcionados à população rural, como a retomada do programa Agrinho, voltado à educação de crianças e jovens com vistas à sustentabilidade e conhecimento das atividades do produtor, novos cursos EaD, com 3 mil inscritos na plataforma, reajuste de valores aos prestadores de serviços, a realização de 4,4 mil cursos de Formação Profissional Rural (FPR) distribuídos entre 250 modalidades e Promoção Social (PS) resultando em mais de 34 mil pessoas capacitadas.
Próximo à centésima edição, e já na casa dos 25 mil atendimentos, o Programa Saúde do Homem e da Mulher Rural, do Senar MS, também fez a diferença na vida da população no campo. São histórias que se cruzam com a própria trajetória de vida e de luta pessoal de Marcelo Bertoni. O presidente da Famasul indicou o médico urologista Marcelino Chehoud Ibrahim para conduzir os procedimentos de prevenção ao câncer de mama e de próstata junto aos participantes do programa. “O doutor Marcelino é o meu médico pessoal e o chefe geral da turma toda. Quando eu comecei a contar sobre o caso da minha mulher nesses atendimentos, as pessoas se sensibilizaram e entenderam que a prevenção é o melhor caminho para ter uma melhor qualidade de vida. Muitos acham que o câncer é distante do presidente, mas ele esteve na minha casa em 2021. Atualmente, a minha esposa está em acompanhamento, mas está bem, pois não desistiu de lutar”, reforçou.
Outro projeto de destaque é o Acolhe no Campo, em parceria com o Ministério Público Estadual, para a conscientização e o combate à violência doméstica no meio rural. “Esse é um baita programa social do Sistema Famasul. Nossa população é muito carente nesse sentido e foi durante os atendimentos de saúde que percebemos essa deficiência na proteção dessas mulheres, que são encaminhadas a psicólogos, separadas do agressor e ainda participam de capacitações para a geração de renda e liberdade financeira”, destacou Bertoni.
Em 2021, a instituição participou, pela segunda vez, do Programa Nacional de Prevenção à Corrupção, o que evidenciou seu compromisso com a ética, respeito e qualidade na prestação de serviços, e assim, aprimorou os mecanismos de governança e controle interno, para minimizar possíveis fragilidades que possam desencadear em fraudes e corrupção. A comunicação também é um ponto forte da gestão, que deu continuidade ao intenso trabalho durante a pandemia e intensificou o acesso aos canais pelas mídias sociais, proporcionando aos participantes conhecimento sobre novas tecnologias, particularidades do estado, potencialidades e indicadores que refletem ganhos de produtividade e eficiência econômica. No total, aconteceram nove lives e eventos pelo canal do Sistema Famasul no YouTube, configurando 1.818 visualizações, 318,5 horas assistidas e mais de 622 novos inscritos na plataforma.
O lançamento do Senar/MS ESG, ocorrido no dia 3 de junho de 2022, evidenciou o compromisso da instituição em ampliar as boas práticas na agricultura. O evento aconteceu no Shopping Bosque dos Ipês, em Campo Grande, e reuniu mais de 800 participantes, entre autoridades, colaboradores do Sistema Famasul, Sindicatos Rurais de Mato Grosso do Sul, técnicos e instrutores de campo e demais prestadores de serviços. As iniciais da sigla são originárias da língua inglesa que, traduzidas para o português, significam os eixos meio ambiente (environmental) social (social) e governança (governance).
O ESG representa, na prática, as diretrizes que disseminam informações e incentivam o desenvolvimento de iniciativas que atendem às exigências socioambientais e tendências de mercado. Entre elas, destacam-se os índices sobre recursos hídricos e emissão de carbono; leis trabalhistas e condições de saúde e segurança; transparência, ética e integridade dentro das instituições. “Este foi um momento único na minha vida: estar ali, entre amigos, receber todo aquele carinho, discutindo algo tão importante naquele palco redondo, gigantesco. Todos constataram a potência e a importância do Senar para a mudança de paradigma no estado”, atestou Bertoni, com orgulho.
Demais ações sociais são consideradas fundamentais pelo presidente da Famasul, como Agro Fraterno, que realizou, durante a pandemia, a entrega de cestas básicas em comunidades carentes e para projetos sociais que atendem às parcelas mais vulneráveis da população. “Essas ações sociais organizadas pela CNA e diversas entidades ligadas ao agro foram muito importantes e fizeram a diferença imediata na vida de quem estava com fome, especialmente naquele momento. As pessoas precisam saber disso.”
Bertoni ressaltou que a cada dez pratos de comida disponibilizados no mundo, seis são provenientes do Brasil. A segurança alimentar, de acordo com o produtor rural, é o que protege a humanidade. “Uma das frases que o meu pai sempre me dizia era: ‘você tem que comer tudo e limpar o prato’. Naquela época, a população brasileira configurava em torno de 150 milhões de pessoas. Para ele, se cada brasileiro deixasse um grão de feijão de sobra, seriam 150 milhões de grãos jogados fora. Hoje o nosso desperdício é muito grande e é preciso que haja conscientização em torno desse fato.”
Outra conquista significativa durante esse período foi o impedimento da criação de Unidades de Conservação de Uso Restrito nas cidades de Bonito e Jardim, ao viabilizar, em contrapartida, as Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS) com apoio de representantes do Poder Público do estado. “Admiro muito o Jaime Verruck (Semagro) e o André Borges (Imasul) que atuam mesmo pelo coletivo. É preciso ter essa percepção de reconhecer pessoas que estão muito à frente de nós. Nessas localidades, não havia o menor sentido em se criar um parque estadual no meio do banhado. Com a ajuda deles, e também do governador, Reinaldo Azambuja, e do presidente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul, Paulo Corrêa, os produtores da região não foram prejudicados. Mas isso se deu em decorrência de um trabalho intenso. Foram dois anos de muitas conversas, até chegar ao entendimento para se fazer nesse formato”, explicou.
Um fato inusitado ocorreu ao final do mês de dezembro de 2021: uma instituição financeira tradicional, parceira do produtor rural, realizou postagens em suas redes sociais divulgando uma campanha de marketing considerada desastrosa – um chamado “dia sem carne”. Após a alta reatividade do setor, a Famasul foi a única federação que não emitiu a sua nota de repúdio no país. “Entre as 27 federações, mantivemos a nota escrita, mas não a publicamos. Imediatamente, já que fomos procurados pela diretoria nacional do banco. Naquele momento, a minha exigência, como presidente, foi a de que buscassem melhores condições junto aos produtores que estavam com problemas no custeio devido à estiagem prolongada em nosso estado. E ainda recomendei que repensassem sobre as equipes de marketing da instituição que, aparentemente, desconheciam o que o banco fazia pelo setor, como financiamentos de maquinários e insumos. Se você não conhece o que faz, não há como defender a sua posição. É o que eu sempre digo aos nossos presidentes dos Sindicatos Rurais”, ressaltou Bertoni.
Nesse ínterim, duas novas ferramentas foram lançadas no dia 25 de outubro de 2022, em comemoração aos 45 anos da Federação. O Famasul Conecta é uma plataforma online de vagas que tem o objetivo de conectar empregadores do setor a candidatos em busca de oportunidades de trabalho. A ferramenta permite que seja feita busca por colocação no mercado, além de disponibilizar vagas de emprego no setor agropecuário. A outra novidade é o Famasul Vantagens, que oferece descontos especiais e condições exclusivas para produtores rurais que fizerem a adesão. Se por um lado, o produtor tem mais acesso à aquisição de materiais, serviços e produtos, por outro as empresas credenciadas fomentam a visibilidade da sua marca, possibilitando novos clientes potenciais do agro. Mais de 60 empresas nos segmentos de insumos agropecuários, máquinas e implementos agrícolas, concessionárias de veículos, oficinas mecânicas, planejamento e assessoria ambiental, curso de graduação e pós-graduação, farmácia e laboratórios, segurança, energia fotovoltaica, entre outros, já foram cadastradas. Cerca de 5,1 mil cartões já foram emitidos, sendo 3.555 para produtores atendidos pela Assistência Técnica e Gerencial do Senar/MS, e mais de 1,6 mil para produtores sindicalizados.
A chegada dos 45 anos da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul simboliza conquistas inestimáveis ao setor, que, desde o início da criação do Estado de Mato Grosso do Sul, em 1977, se organizou em prol da defesa do agronegócio. Para Marcelo Bertoni, o estado só tem a crescer tecnicamente, graças aos produtores rurais que se empenham, dia após dia, em fazer o certo. “O governador Reinaldo Azambuja afirmou que até 2030, Mato Grosso do Sul será um estado carbono neutro, porém, acredito que vamos alcançar essa meta bem antes, pois hoje já somos referência na integração lavoura-pecuária-floresta para os outros estados”, constatou.
Mato Grosso do Sul apresenta, no momento, 4 milhões de pastagens renovadas mediante o trabalho dos produtores. “MS é o segundo estado que mais produz celulose no Brasil e o primeiro em exportação. Uma das cadeias que começaram a se fortalecer nos últimos anos é a da suinocultura, que está muito forte. Essa atividade cresceu mais de 140% em 10 anos, por meio de investimentos em alta tecnologia. A cadeia do frango também está em franca ascensão e o estado é líder nacional na exportação do filé de tilápia. A logística de entrega em países distantes, como os Estados Unidos, é fantástica. Em apenas 48 horas, o produto está na gôndola dos supermercados norte-americanos. Acredito que o nosso estado, da mesma forma, terá um grande potencial gigantesco de desenvolvimento com a Rota Bioceânica.”
Representante da avicultura pela Famasul junto à CNA, ex-presidente da Associação dos Avicultores de Mato Grosso do Sul (Avimasul) durante quatro anos e atual presidente da Associação dos Avicultores de Sidrolândia (Avisidro), o advogado e produtor Adroaldo Hoffmann ressalta que durante muitos anos, a avicultura permaneceu estagnada no estado. De maneira que esse cenário fosse transformado, o produtor do segmento, amparado pela Lei n. 13.288 de 2016, que regulamenta o sistema de integração no Brasil, e por força da organização e investimentos em novas tecnologias com vistas a longo prazo, fez com que o frango de Mato Grosso do Sul fosse um produto diferenciado no país e no mundo. “No início, começamos com aviários convencionais, passando pelos climatizados e culminando nos darkhouses para maior eficiência de produção. Na década de 70, demorava-se 60 ou 70 dias para engordar 2 quilos de frango. Eram aviários com ventiladores, mas a temperatura permanecia ambiente, o que impactava na produção. Hoje os darkhouses usam as tecnologias com exaustores, placas evaporativas, porém, com a luminosidade controlada. Conseguimos atingir a mesma produção com 40, no máximo 45 dias”, explicou Adroaldo sobre a escala evolutiva de produção no estado.
Para o presidente da Avisidro, o apoio da Famasul foi essencial para a organização do setor e uma mudança de mentalidade do produtor rural. “O Eduardo Riedel (presidente da Famasul entre 2012-2014) foi o precursor para que a avicultura tivesse voz dentro da Federação. Ele abriu as portas da Casa, mediante o trabalho sério feito pelas lideranças do setor para demonstrar que nós precisávamos daquele apoio institucional. Essa foi uma parceria extremamente benéfica para a avicultura. É inegável que a questão psicológica reflete em resultados. A partir do momento em que tivemos essa valorização, com o Eduardo Riedel, posteriormente com o Mauricio Saito e continuamos agora, com um prestígio muito grande junto ao Marcelo Bertoni, nós nos sentimos psicologicamente melhores e inseridos dentro da Famasul. Hoje temos uma sala dentro da Federação para atendimento. O produtor se sentiu valorizado. Conseguimos que profissionais da Famasul trabalhassem para as associações, levantando dados com vistas a projetar novas ações no futuro, a fim de identificar e corrigir possíveis problemas. Temos uma parceria com o Senar para treinamentos de produtores em relação à gestão e já foi constatado um crescimento muito grande de satisfação e de produção. Isso também fortaleceu as associações, pois a partir do momento em que ele se sente inserido e percebe que há pessoas ajudando a pensar o seu negócio, visualiza que tem um potencial muito grande de desenvolvimento, como produtor e como ser humano.”
Já o presidente da Associação Sul-Mato-Grossense de Suinocultores, Alessandro Boigues, explica que o setor começou a tomar maior proporção em Mato Grosso do Sul entre os anos de 1996 e 1997. “A Asumas permaneceu sendo comandada, nos anos anteriores, de maneira mais tímida, em decorrência do setor ainda ser muito novo e pequeno no estado. Após 10 anos, a suinocultura teve um crescimento muito expressivo no estado. Por isso, ela vem se tornando cada vez mais forte e visível. Nos últimos oito anos de governo, o segmento quase que dobrou em produtividade, em decorrência das iniciativas dessas indústrias que vem crescendo, aliadas ao planejamento estratégico que, com o aumento da produção de grãos (soja e milho) em Mato Grosso do Sul, a suinocultura e avicultura também se desenvolveram, pois tradicionalmente essas atividades tendem a crescer junto”, considerou Alessandro Boigues.
De acordo com o presidente da Asumas, há apenas quatro anos, a suinocultura deu um boom de produtividade no estado. “Em 2021, tivemos um abate de 2 milhões de cabeças e a projeção para 2024 será de quase 4 milhões de cabeças. Por isso, a associação deve se estruturar mais e, consequentemente, está se tornando mais visível, até pelo modelo de atuação, ao dar suporte a esse crescimento, com relações institucionais e governamentais bastantes sólidas, além de buscar mais incentivo para a atividade”, comentou. Alessandro Boigues frisa que o estado deve continuar a avançar, sobretudo nas questões ambientais. “A suinocultura necessita de licenças ambientais para a sua ampliação. Estamos fazendo um trabalho para que possamos crescer com sustentabilidade, modernizando os incentivos, a legislação ambiental, sanitária e dando condição de crescimento para essas propriedades.”
Sobre o escopo da Federação para a atividade, o presidente da Asumas é enfático ao constatar que o apoio e parceria da instituição é vital para a suinocultura em Mato Grosso do Sul. “A Famasul é a nossa líder-mãe. O Mauricio Saito nos acolheu dentro da Casa de forma impressionante. Nós entramos e hoje temos a nossa associação dentro da Famasul. A visibilidade que tanto precisávamos nos ajudou bastante. Tê-la como uma líder só fez com que agregasse e evoluísse ainda mais o nosso negócio. O Marcelo está dando continuidade a isso, nos auxiliando ainda mais e facilitando para que possamos alcançar esses objetivos. A Famasul, por intermédio do Senar, desenvolveu programas para capacitar os produtores, com cursos, acompanhamento técnico e mediante o lançamento do primeiro projeto nacional chamado Granja Plus, que vem fazendo com que as propriedades e produtores melhorem cada vez mais a gestão do seu negócio. Isso agregou e tornou o crescimento do setor ainda mais fácil. A constituição de um outro corpo técnico com lançamento de informações sobre as movimentações de animais no estado também tem favorecido sobremaneira a gestão da atividade. Realmente nos acolheram e hoje a Famasul faz parte da suinocultura estadual.”
A Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso do Sul (Aprosoja/MS), que representa a atividade de cultivo de soja, milho e grãos, existente como um importante braço da Federação, tem evoluído bastante na questão da sustentabilidade da produção agrícola sul-mato-grossense. Com estimativa de crescimento de 41,7% quando comparado à temporada anterior, a safra de soja 2022/2023 em Mato Grosso do Sul deve superar 12,3 milhões de toneladas. De acordo com André Dobashi, presidente da Aprosoja/MS, os investimentos em capacitação, mediante a aplicação ostensiva de ciência e tecnologia, não pararam nem mesmo durante a pandemia. “O trabalho que o Mauricio fez nesse período foi fundamental, pois mesmo com poucos colaboradores a campo e com o respeito a todos os protocolos de biossegurança, além da testagem sistemática da Covid-19, o setor sofreu pouco impacto. Acredito que o Marcelo aprendeu bastante da disciplina do Mauricio Saito. São duas pessoas de competência muito grandes, com perfis diferentes, mas com o mesmo objetivo: alavancar o agronegócio do estado no Brasil e no mundo”, pontuou.
Para Dobashi, a Federação sempre foi muito presente na vida do produtor rural sul-mato-grossense. “A Famasul é uma das maiores fontes de informação confiável para que o setor possa se desenvolver de maneira contínua. Tornou-se uma instituição madura, com fundamentação técnica. Me orgulha a representatividade e a luta da Federação em defesa do produtor rural. Aqui, nós representamos o Brasil e o mundo em produtividade, mesmo sendo um estado jovem, mas que tem consciência ambiental, se preocupa com a sucessão, com a qualidade social e sustentabilidade. Precisamos dessa evolução constante, com mais Eduardos, Mauricios e Marcelos à frente na liderança. São esses perfis, com características diferentes, mas com os mesmos interesses, que projetam um futuro promissor. E precisamos de novas lideranças jovens que tenham esse mesmo compromisso”, reiterou.
Projeções – Marcelo Bertoni analisa que é preciso mais investimentos e ações concretas para implementar logísticas adequadas ao escoamento da produção agroindustrial de Mato Grosso do Sul. “O nosso estado precisa avançar na questão das ferrovias. Cito o exemplo da BR-262 que liga Campo Grande a Corumbá. Trata-se de uma rota turística em que o trânsito de caminhões interfere na biodiversidade, diante da alta incidência de atropelamentos de animais silvestres, além de aumentar o risco de acidentes dos usuários da rodovia. Temos que partir para o modal ferroviário e também o hidroviário, urgentemente”.
De acordo com o presidente da Famasul, esse desenvolvimento ocorrerá a partir da interlocução junto ao Ministério Público e ambientalistas capacitados a compreender o quanto o setor é vital para a sociedade. “Além de seguir com a qualificação da mão-de-obra no campo, é preciso rever a nossa política indigenista. Outra questão é o resguardo da segurança jurídica das propriedades rurais do estado, bem como fazer valer a regularização fundiária. Há 150 anos, foram aquelas pessoas, naquele período histórico, que protegeram as fronteiras no Brasil, convocadas pelo próprio governo para cumprir essa missão de segurar as nossas fronteiras para a soberania nacional, após o fim da Guerra do Paraguai, em 1870. Elas adquiriram os títulos de maneira honesta, justa e legal. Por isso, não podemos esquecer da história e não podemos deixá-la de lado, para não incorrer novamente em erros no futuro”, concluiu Marcelo Bertoni.
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