Filme ‘Planuras’ tem estreia em sessão especial, no dia 17 de março
Filme ‘Planuras’ tem estreia em sessão especial, no dia 17 de março
A Famasul – Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul realiza na próxima terça-feira (17) a estreia do filmensaio ‘Planuras’, do cineasta Maurício Copetti, uma recente e inédita produção sobre o Pantanal. A estreia acontecerá em sessão especial para convidados no Cinemark, no Shopping Campo Grande, às 19h30.
Filmado no bioma mais preservado do Brasil, desde 2011, o filme, como afirma o próprio cineasta, não pretende ser uma ficção, nem um documentário com linguagem tradicional. Para Copetti, a paisagem no filme mostra os eventos naturais, as cores, os sons, a dinâmica de seus residentes. “É o protagonista multifacetado”, define o cineasta.
Descobertas e reflexões sobre os aspectos culturais, históricos e sociais a partir de depoimentos que mais parecem devaneios do imaginário dos depoentes do que entrevistas tradicionais. É este o objetivo da pós-produção que tem patrocínio da Famasul, investimento do FIC-MS e mostra o movimento das cheias dos últimos anos com um discurso estético próprio, sem preocupação com a linearidade.
Para a Famasul, apoiar iniciativas como Planuras tem um apelo especial na medida em que – ainda que de uma forma muito própria – o filme mostra que o homem pantaneiro, com sua atividade pecuária, é parte reconhecida desse ambiente. Justamente sobre esse personagem regional dentro do Planuras, Copetti destaca: “O homem pantaneiro se funde em seu próprio meio e ele é parte desta paisagem a nos comunicar suas impressões junto a signos diversos resignificados na narrativa do filmensaio”.
Leia abaixo a entrevista completa com o cineasta Maurício Copetti:
Famasul – O filme Planuras retrata a paisagem do Pantanal. Mas o sentido do termo paisagem, dentro do contexto do filme, é mais amplo do que a maioria das pessoas define. Qual é o conceito do termo paisagem no filme Planuras?
Maurício Copetti – A paisagem no filme é o protagonista multifacetado: os eventos naturais, as cores, os sons, a dinâmica de seus residentes se interrelacionando e sendo resignificados através da linguagem cinematográfica e poética do filmensaio Planuras. É como se fosse o auto-retrato, a expressão da paisagem pantaneira projetada no filme que tem perspectivas atemporais. É a multiplicidade desse ambiente vasto, misterioso e encantador que se redesenha constantemente e obriga seus habitantes a se adaptarem, gerando uma cultura singular, tanto nos homens quanto na fauna e flora. O ciclo das águas é o que rege essa singularidade.
Famasul – E como o homem pantaneiro é desenhado, retratado, nesta paisagem que é o Pantanal?
MC – O filme não pretende corroborar com uma noção antropocêntrica, onde o homem é o centro do universo e pretende dominá-lo. Pelo contrário, é na força desse humanos que desde os primórdios do surgimento da paisagem pantaneira atual vem se adaptando e criando novas alternativas para sobreviverem com sucesso, mas resilientes ante o tamanho poder daquela paisagem. O homem pantaneiro se funde em seu próprio meio e ele é parte desta paisagem a nos comunicar suas impressões junto a signos diversos resignificados na narrativa do filmensaio Planuras. Há uma simultaneidade de tempos interagindo naquela paisagem e não podemos considerar somente a atualidade, pois o aprendizado de adaptação aos humores extremos do Pantanal foi passado de geração em geração, de etnia a etnia e essas evidências culturais estão presentes até hoje, pois mesmo com toda a tecnologia disponível atualmente o homem moderno aplica as mesmas estratégias de sobrevivência que seus antecessores.
Famasul – Você definiu o filme como o olhar sobre um Pantanal inusitado. Como é este Pantanal inusitado? O que ele tem de diferente
MC – O que quase sempre se vê é um olhar regionalizado e que está mais que esgotado e redundante, chegando ao cúmulo de dar-se a ele, mais recentemente com o ecoturismo, uma imagem africanizada: paraíso ecológico e seus animais, o tuiuiú, a pesca intensiva… É claro que existem estes aspectos, mas estão entre milhares de outros…. Mesmo em Campo Grande, na década de 50 quase ninguém sabia o que era Pantanal. Esse topônimo é recente, muito recente. Pouco antes disso se chamava Mar ou Laguna de Xaraés e sabe-se pouco ou quase nada de como essa paisagem era vista ou denominada por outros povos que já viviam muito antes da chegada do colonizador europeu. E pouco realmente se fala da alternância cíclica entre abundância e escassez de água, que é o dispositivo natural que determina toda uma cultura de sobrevivência e dentro daquela paisagem. Então Planuras inspira para uma libertação desses clichês para projetar nas telas uma outra geografia, uma outra possibilidade de vermos a universalidade do Pantanal. Por isso Planuras é um filmensaio realizado a partir de imagens documentais, mas sem a pretensão – que geralmente filmes-documentários tem- de retratar uma “realidade” ou “verdade” absoluta.
Famasul – O produtor rural do Pantanal é conhecido nacionalmente e, porque não dizer, internacionalmente, como sustentável, porque consegue produzir, coexistir, sem danificar o meio ambiente. Após passar tanto tempo, trabalhando neste bioma, constituindo essa paisagem através de imagens, como você define, percebe, essa relação entre o produtor rural e a natureza?
MC – A presença da pecuária remonta uma história muito recente e consolidada somente há uns dois séculos no pantanal. Ele é um território privado atualmente e podemos dizer que o pantaneiro tradicional esteve vivendo em harmonia com o meio e mantendo fortes laços emocionais com a sua terra até os dias de hoje. Pelo simples fato de tratar-se de uma região remota, de vastas propriedades onde predomina a criação extensiva da pecuária de recria em pastagens naturais, essa mesma cultura foi praticamente simbiótica enquanto usufruiu e usufrui das pastagens nativas sem nunca alterar o fluxo natural do ciclo das águas. O próprio Pantanal impôs esta condição pelo regime de grandes enchentes e pelo solo pobre, limitando outras culturas. O pantanal tem um brilhante futuro enquanto for o Pantanal. Enquanto for Pantanal! O homem tem toda capacidade de adequar sua economia dentro de uma dinâmica de sustentabilidade e torço para que o que ocorreu entre pantaneiros e pantanal no passado continue a evoluir nesse equilíbrio.
Copetti nasceu em Ijuí, no interior do Rio Grande do Sul e veio para o Mato Grosso do Sul em 1992. O cineasta é conhecido, tanto nacionalmente como internacionalmente, por retratar o universo pantaneiro. Entre suas produções, o primeiro foi o documentário Delta de Salobra que faturou quatro prêmios em festivais de cinema nacionais. A seguir, produziu o curta de ficção “Nanquim”. Além disso, fotografou filmes de outros diretores e produziu, em associação com a BBC- Bristol, o telefilme “Raising Sancho”.