Podcast do Sistema Famasul questiona distorções sobre o agro nos debates climáticos
Podcast do Sistema Famasul questiona distorções sobre o agro nos debates climáticos

O sétimo episódio do podcast Campo em Prosa, do Sistema Famasul, lançado nesta quarta-feira (30), traz um debate sobre o papel da agropecuária nos fóruns internacionais sobre mudanças climáticas. O convidado é o professor Daniel Vargas, da Fundação Getulio Vargas (FGV), um dos principais especialistas brasileiros em clima, mercado de carbono e sustentabilidade no campo.
Com mediação do superintendente do Senar/MS, Lucas Galvan, a conversa discute a crescente responsabilização da agricultura tropical — especialmente a brasileira — pelas mudanças climáticas, apontando distorções em métricas ambientais, interesses comerciais e a importância de apresentar a realidade do agro nacional ao mundo.
“Em 1992, o Acordo do Clima e Desenvolvimento tratava a agricultura como vítima das mudanças climáticas. Era uma indústria a céu aberto, que enfrentava riscos climáticos diretos. Trinta anos depois, pela primeira vez, vemos o setor no banco dos réus”, contextualiza Vargas.
O episódio completo está disponível no canal do YouTube e no Spotify do Sistema Famasul. Confira:
Segundo ele, essa mudança de percepção está ligada à busca por novos alvos nas disputas comerciais globais. “Países de clima temperado temem a força produtiva dos trópicos. A pujança do agro tropical assusta. Então, criam narrativas para desacreditar nossos sistemas produtivos”, afirma.
Além dos embates geopolíticos, Galvan destaca a disseminação de informações equivocadas sobre a produção agropecuária. “Tem gente que ainda acha que o problema está no arroto do boi. Poucos sabem que o Brasil é responsável por apenas 2% a 3% das emissões globais, mesmo sendo um dos maiores produtores de alimentos do mundo. Isso precisa ser dito com clareza”, reforça.
Vargas também questiona o uso de métricas como o CO₂ equivalente para avaliar o metano emitido por ruminantes. Segundo ele, esse tipo de cálculo ignora que o ciclo do boi é renovável, diferente dos combustíveis fósseis. “Não dá para tratar o boi como se fosse uma petroleira. Quando bem manejado, ele é quase como uma árvore perambulando. Também deveria ser reconhecido como prestador de serviços ambientais.”
O episódio ainda aborda as barreiras não-tarifárias impostas por países desenvolvidos sob a justificativa ambiental, e defende a “tropicalização” dos padrões globais. Para Vargas, a COP30, que será sediada no Brasil, é uma oportunidade estratégica para apresentar ao mundo a realidade do agro nacional.
“Não me surpreenderia se houver uma movimentação para responsabilizar produtores tropicais. Isso significaria repassar a conta de uma crise causada historicamente pela queima de combustíveis fósseis nos países ricos para o pecuarista do Sul global”, conclui.
Assessoria de Comunicação do Sistema Famasul – Michael Franco