Cultivo de árvores aumenta ganho do produtor rural
Cultivo de árvores aumenta ganho do produtor rural
O sistema de Integração Lavoura Pecuária e Floresta (ILPF) promove a inserção de árvore na propriedade rural, gerando renda e benefícios para o meio ambiente. Hoje (21/09) é comemorado o Dia da Árvore, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil e as federações da agricultura e pecuária dos estados de Mato Grosso do Sul, Paraná e Minas Gerais entrevistaram produtores rurais que utilizam o sistema em suas propriedades.
Estratégia de produção sustentável, integrando atividades agrícolas, pecuárias e florestais, realizadas na mesma área, este é o conceito da ILPF. No sistema, o cultivo é realizado de forma consorciada, em sucessão ou rotacionado, buscando efeitos simultâneos entre os componentes do agroecossistema, contemplando a adequação ambiental, a valorização do homem e a viabilidade econômica.
Veja o que dizem os produtores rurais sobre o ILPF:
Mato Grosso do Sul – Famasul
Sistema FAMASUL – Como começou sua trajetória dentro da silvicultura?
Moacir Reis – Há quinze anos começamos a trabalhar com florestas plantadas, ao mesmo tempo em que iniciamos na pecuária. Entretanto, até então, as florestas eram cultivadas em locais separados da pecuária. A partir de 2006, começamos a investir no sistema silvipastoril, que é a integração da floresta com a pecuária. Gostamos, achamos interessante e começamos a intensificar as áreas. No início, cultivamos em apenas 300 hectares, com vários espaçamentos. Com o tempo, iniciamos, junto com a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), um trabalho mais embasado. Ainda, naquele ano, fizemos o primeiro dia de campo direcionado a este tema. Posso assegurar que estamos aprendendo junto com as entidades de pesquisa. Os resultados já são muito positivos. Conseguimos sair da zona de risco.
Sistema FAMASUL – Os benefícios ultrapassam a esfera econômica?
Moacir Reis – Isso mesmo. Tem a questão do meio ambiente. Quando você integra culturas e florestas na mesma área de manejo, o resultado é gratificante. O animal se sente muito mais à vontade debaixo de uma sombra do que no sol quente, refletindo assim, no ganho de peso. Em breve, junto com a Embrapa, lançaremos um selo: Carne Carbono Neutro, considerando que os gases emitidos pelo bovino são sequestrados pelas árvores plantadas. É um balanço muito positivo. É um incentivo e tanto para a cadeia produtiva.
Sistema FAMASUL – O senhor é de Água Clara, região Leste de Mato Grosso do Sul, uma das mais importantes no setor de florestas. Como é a adesão dos produtores a este segmento e ao sistema de Integração Lavoura Pecuária Floresta (IPLF)?
Moacir Reis – Ficamos muito satisfeito com as propriedades que vem nos visitar e que acabam implementando o sistema. Algumas acabam desenvolvendo um trabalho até mais representativo que o nosso. É possível afirmar que a ILPF tem ajudado para que o produtor não deixe o campo, considerando que a madeira, muitas vezes, remunera melhor que a pecuária. Se você integra as duas culturas, o sucesso é garantido, é possível pagar a implantação do sistema com a receita obtida ainda no primeiro corte que, geralmente, leva sete anos. E quanto mais perto você estiver da indústria, melhor.
Paraná – Faep
Sistema FAEP – Fale um pouco de sua história com a ILPF?
Ana Beatriz Ribeiro – Trabalhamos com pecuária há mais de 30 anos, focando no sistema de criação de animais numa região onde o calor é intenso e os períodos de estiagem são constantes. A escolha de trabalhar no sistema de Integração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF), no nosso caso Integração Pecuária Floresta (IPF), veio a partir de dados e exemplos do funcionamento do sistema em outras propriedades. Acredito que poderemos obter um melhor aproveitamento das pastagens, melhor qualidade no nosso produto final que são os bezerros e obter lucratividade. Estamos implantando o sistema há dois anos, numa área de 100 hectares destinada à pecuária. Fizemos o caminho inverso. Tínhamos os piquetes e praças de alimentação prontos, faltando somente o plantio dos eucaliptos nas curvas. Foi trabalhoso, mas conseguimos implantar o sistema em praticamente 75% da área destinada à pecuária. Trabalhamos com cana-de-açúcar, pecuária, grãos e eucalipto na propriedade. O eucalipto entra como mais uma possibilidade de renda, além de melhorar o microclima, ajustar ambientalmente a fazenda e colaborar para que a pecuária seja mais lucrativa. Ainda estamos no início do projeto, mas acredito que só temos a ganhar. É um investimento em longo prazo, trabalhoso para implantar e tem que ser bem feito, mas acredito que só teremos a ganhar futuramente.
Sistema FAEP – Como é feito o manejo?
Ana Beatriz Ribeiro – Como o espaço escolhido para trabalhar o sistema é uma área fixa para pecuária e, previamente já era piqueteada e separada por cercas e praças de alimentação, foram feitos ajustes nas curvas de nível e plantamos eucaliptos dispostos em zig zag. Nas divisas de cercas, plantamos em fila simples e nas praças, em fila dupla. Antes do plantio, fizemos o controle de formigas cortadeiras em toda área e correção de solo nas curvas. O plantio foi feito com matracas (ferramenta utilizada para o plantio) e usamos hidrogel, pois é uma região mais seca e quente com períodos de estiagem grandes. Após o plantio, foi feita uma adubação próxima de cada muda e acompanhamos o desenvolvimento e crescimento das árvores para poder agir pontualmente na presença de alguma praga ou planta invasora. Há dois meses executamos a primeira poda e o desenvolvimento dos eucaliptos tem sido acima do esperado.
Sistema FAEP – O sistema é acompanhado por assistência técnica?
Ana Beatriz Ribeiro – Trabalhos em conjunto com uma empresa de consultoria em floresta que nos visita a cada dois meses para avaliar a área. Temos outras atividades na propriedade então trabalhamos com uma equipe que pode atender as demandas operacionais que a assessoria pede. No início do projeto, as ações são um pouco mais intensas, mas hoje estamos com quase um ano e meio de plantio e já executamos a primeira poda. O manejo da área se resume em controle de plantas invasoras e controle do desenvolvimento das árvores por meio de análises foliares (identifica a presença de nutrientes disponíveis no solo e efetivamente absorvido pelas plantas) e análises de solo. Se houver necessidade de intervir, isso é feito prontamente.
Sistema FAEP – Quais as vantagens do sistema Integração Pecuária Floresta?
Ana Beatriz Ribeiro – Optamos por transformar a área de pecuária em Integração Pecuária Floresta porque acredito na possibilidade de ter alimento para os animais por mais tempo e, com isso, não depender tanto de suplementação alimentar durante os períodos mais críticos e, ao fim do ciclo, poder desmamar bezerros mais pesados e aumentar a lucratividade da propriedade. A segunda vantagem é a renda extra que é vislumbrada mais para frente com a exploração da madeira. Já trabalhamos com outras áreas de eucalipto e entendemos que, dentro da renda da fazenda, madeira pode ser uma alternativa. Então nada mais justo que aliar um ambiente melhor para os animais, mais confortável ambientalmente, aumentar o ganho de peso dos bezerros e ainda ter um lucro futuro na exploração da madeira daqui a alguns anos.
Minas Gerais – Faemg
Sistema FAEMG – Por que optaram pelo sistema?
Leonardo Resende – A opção pelo ILPF ocorreu há 10 anos, com o objetivo de aumentar a lucratividade. A integração me permite trabalhar com dois produtos no mesmo espaço, o que potencializa significativamente o lucro. Se eu trabalhasse somente com a pecuária de corte, por exemplo, lucraria uma média de R$ 500 por hectare. Com a integração, considerando o lucro da madeira, consigo aumentar esta média entre 7 e 8 vezes.
Sistema FAEMG – Como é feito o manejo?
Leonardo Resende – Depende da espécie que se esta cultivando, cada uma tem sua especificidade e, consequentemente, um manejo apropriado. Durante os primeiros anos, que são mais decisivos, é fundamental um cuidado maior. Depois dessa primeira etapa, o manejo deve ser feito de modo a aguardar o desenvolvimento do diâmetro do tronco, no caso da serraria.
Sistema FAEMG – Como avalia o ILPF?
Leonardo Resende – Além de descobrir que é um ótimo negócio em termos de lucratividade, pude constatar que o ILPF é uma ferramenta de sustentabilidade fantástica. A árvore tem um papel fundamental no resgate do gás carbônico da atmosfera, na infiltração de água no solo e também no conforto térmico dos animais que, com a redução da temperatura, se tornam mais produtivos. De um modo geral, o ILPF age no sentido de criar um ambiente muito mais harmônico.
Sistema FAEMG – Qual a importância da árvore dentro da propriedade?
Leonardo Resende – Acho que dentro do novo agronegócio, a introdução da árvore foi responsável pela terceira revolução da atividade. Se considerarmos a primeira quando o homem deixou de ser nômade e a segunda com o advento do trator, a terceira começa com a integração, quando se tornou possível unir o aumento da produtividade com a mitigação das mudanças climáticas, isto dentro de uma atitude ecológica, que trabalha os lados social, econômico e ambiental. De um lado, consegue-se uma maior viabilidade e lucratividade do empreendimento, e de outro, reduz a pressão sobre as árvores da Amazônia ao produzir madeira de origem renovável, por exemplo.