Formação rural on line faz graduados e pós-graduados voltarem a estudar
Formação rural on line faz graduados e pós-graduados voltarem a estudar
Graduado em Tecnologia e Gestão Financeira e trazendo no currículo duas especializações, Asdrubal Mariano de Lima, 46 anos, está de volta aos bancos escolares. ‘Banco’ é maneira de dizer, pois a tecnologia mudou a referência também do sistema de ensino. Lima é um dos 180 sul-mato-grossenses aprovados no curso Técnico de Agronegócio, oferecido desde março pelo Senar/MS – Serviço Nacional de Aprendizagem Rural pelo programa Rede e-Tec.
O mais surpreendente é que Lima não está sozinho. São ao todo 45, ou 25% dos alunos aprovados no curso que têm formação superior, vários deles inclusive com pós-graduação. Mas o que faz um profissional desse patamar frequentar um curso de nível médio? “Sou do interior de São Paulo e moro há 15 anos em Dourados. Cheguei aqui para ministrar treinamentos em usinas de açúcar e álcool e apesar das especializações que possuo, acho necessário aprender mais sobre a dinâmica do agronegócio”, justifica, ressaltando que escolheu a capacitação também pela facilidade em acompanhar as aulas, oferecidas pelo método à distância.
A procura por complementação na carreira ou especialização vem aumentando nos últimos anos em todo país. E a modalidade que vem obtendo mais espaço entre os estudantes nas últimas duas décadas é o EaD – Ensino à Distância, escolhida por 14,6% dos candidatos de acordo com o censo de Educação Superior do Inep – 2010. Com objetivo de atender este público, como também aqueles que têm dificuldade para frequentar um curso presencial, o Senar firmou uma parceria com o MEC – Ministério da Educação para levar a oito municípios brasileiros a Rede e-Tec Brasil.
A primeira qualificação oferecida é o curso de nível médio Técnico em Agronegócio, com 1.250 vagas oferecidas em oito estados. No total, foram aprovados 180 alunos de Mato Grosso do Sul, os quais participam das aulas on lines regularmente e presenciais a cada duas semanas, assistidas em polos montados nos sindicatos rurais de Dourados, Inocência e Maracaju.
O superintendente regional do Senar, Rogério Beretta, avalia que a procura por esta qualificação indica a conscientização do trabalhador rural e de outros profissionais que querem atuar no setor e investem na carreira. “Foi um grande reconhecimento o Senar de Mato Grosso do Sul ser escolhido para iniciar o programa com três polos presenciais e registrar uma procura tão expressiva de candidatos, como aconteceu em Maracaju, por exemplo. No entanto, nossa maior surpresa foi comprovar a participação de profissionais já estabelecidos em suas carreiras. Isto indica a confiança no trabalho da instituição”, considerou.
Acompanhando a evolução do agro, Lima reforça que o setor agropecuário é a base da economia do país e por isso acha viável investir em mais qualificação, porque vê as oportunidades se ampliando. “Toda a população precisa se alimentar, independente da classe social. E quem são os responsáveis? Os produtores rurais, por isso, precisam receber orientação e qualificação para melhorar a gestão da propriedade e dos negócios”, pontua.
Mudança – Quase no outro extremo do Estado, Maria Helena Hipólito Teodósio, 54 anos, foi aprovada para participar da mesma qualificação, pelo polo presencial de Inocência. O município é campeão no número de alunos que já possuem outras graduações: 19 no total. Formada em Direito e Medicina Veterinária, Maria Helena decidiu frequentar o curso para dominar técnicas de gestão rural. “Eu sou produtora rural e tenho propriedades em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e São Paulo e resolvi fazer uma qualificação com foco específico em agronegócio. Minha família sempre trabalhou com pecuária de corte, mas estou planejando iniciar criação de ovelha e frango caipira”, detalha.
Maria Helena obteve a segunda melhor nota no processo seletivo e considera que a educação técnica rural pode resolver dois problemas latentes no meio rural: gestão e renda. “Não adianta a pessoa ter terra e não saber administrar. Muitos tentam, batalham e acabam desistindo por não conseguir melhorar financeiramente. A partir do momento que obtém conhecimento, estes proprietários irão reestruturar a gestão, aumentar os lucros e permanecer junto com a família na área rural”, concluiu.
A administradora de empresas, Danuza Galli, 35 anos, uma das aprovadas para o curso do Senar pela rede E-tec no município de Maracaju, procurou o curso para ajudar o pai, produtor rural, a administrar a propriedade da família. “Meu último trabalho foi no setor de comércio, porém, resolvi trabalhar com meu pai e incentivar minha irmã mais nova a concluir os estudos. Confesso que estou gostando bastante do curso e o fato do curso ser à distância também facilita conciliar com as atividades do dia a dia”, avaliou.