Tilápia está mudando a matriz de produção da piscicultura sul-mato-grossense
Tilápia está mudando a matriz de produção da piscicultura sul-mato-grossense
Os piscicultores de Mato Grosso do Sul, na região de Dourados, estão modificando a matriz de produção, até agora formada por espécies nativas e adaptadas (pacu, tambaqui e pintado), ao incluir a tilápia na atividade. Apesar do manejo recente e da característica de tanque escavado, a espécie já é responsável por uma produção de mil toneladas anuais. A afirmação é do engenheiro agrônomo e instrutor do Senar/MS – Serviço Nacional de Aprendizagem, Maurício Cury, responsável pelo atendimento de assistência técnica do ATER da Piscicultura – Assistência Técnica e Extensão Rural da Piscicultura.
Há um ano o profissional atende um grupo de 24 produtores com propriedades na região de Dourados, Itaporã, Douradina e Laguna Caarapã. Com base nos resultados do trabalho de apoio realizado com os piscicultores, Cury afirma que já é possível identificar uma mudança expressiva no manejo, com a introdução da nova espécie. “Os pequenos produtores trabalhavam com cerca de seis espécies de peixes nativos, mas a demanda pela tilápia ofereceu uma possibilidade de aumentar a rentabilidade, já que fica pronta para consumo em um tempo bem menor”. Segundo Cury, enquanto o pescado tradicional demora até 15 meses para atingir tamanho e peso ideal, a tilápia está pronta a partir de sete meses.
A tilápia é nativa da África, mas foi introduzida em várias localidades da América do Norte e do Sul. No país, já se popularizou em todas as regiões, e é muito apreciada pelo sabor leve e maciez da carne. “É o peixe mais consumido no Brasil. O mundo inteiro aprecia o sabor da tilápia”, afirma o instrutor, contextualizando as possibilidades de mercado para o produto. Atualmente, este pescado já é responsável por 43,1% da produção nacional, conforme dados divulgados pela pesquisa de pecuária animal do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Em Mato Grosso do Sul, o acumulado é de 5,67 mil toneladas/ano, colocando o Estado na 16ª posição do ranking nacional, porém, empatado com os estados do Piauí, Sergipe e Pará.
Levantamento da Sepaf – Secretaria de Estado de Produção e Agricultura Familiar aponta que as regiões com maior destaque na produção estadual são Grande Dourados e Cone Sul (Mundo Novo), na modalidade de tanque escavado, e Paranaíba e Aparecida do Taboado, em tanque rede.
Um dos produtores atendidos pelo ATER da Piscicultura é Luiz Carlos Vilaverde, que, há 10 anos, trabalha com produção de pescado em Dourados. Depois de receber assistência técnica, Vilaverde decidiu investir na produção tilápia. “Tenho uma área de cinco hectares, na qual sempre produzi peixes nativos. Com a orientação do Senar percebi que é vantajoso incluir a tilápia, pois tenho comprador certo no frigorífico de Itaporã e, por isso, estou planejando ampliar o número de tanques”, explicou.
Vilaverde acredita no potencial da piscicultura, mas avalia que a criação exige capacitação, assistência técnica e incentivos públicos para os produtores. “Eu e a maioria dos piscicultores contávamos com os ‘pesque pague’ e a feira do peixe aqui em Dourados para vender o produto, o que limita bastante os compradores. Ao recebermos orientação profissional que auxilia na tecnificação do manejo, conseguiremos ampliar a produção e incluir novas espécies”, avalia.
Outro piscicultor que está otimista com as mudanças no setor é Jaime Luiz de Mello, proprietário de três tanques em Dourados e que há 25 anos trabalha com peixe em cativeiro. “Apesar de estar no ramo há bastante tempo, acredito que devemos nos atualizar sempre e o programa do Senar/MS nos ofereceu este incentivo. O destino da minha produção sempre foi limitado mas agora, com esse apoio, pretendo iniciar o manejo de tilápia”, destacou.
Para começar a produzir, o piscicultor pode conseguir aprovação de linhas de crédito, que começam a partir de R$ 30 mil por hectare para investimento na escavação ou construção de tanques, animais e ração. A atividade permite integração com outras criações ou plantios diversos. “A piscicultura é uma excelente alternativa para produtores familiares quando realizada com tilápias, por oferecerem uma alternativa de ganho em menor tempo e com mercado garantido nos frigoríficos do Estado”, concluiu Cury.
Motivação – O produtor André Melhorança trabalha com piscicultura há 20 anos na região de Dourados e iniciou o manejo com tilápia depois de avaliar as vantagens da produção. “Sou engenheiro agrônomo e já trabalhei com assistência técnica durante muitos anos. Acredito que a inclusão da espécie vai contribuir para melhoria da lucratividade dos produtores, desde que recebam apoio técnico e do poder público”, opina.
Melhorança é pesquisador aposentado da Embrapa e aprova o trabalho do ATER da Piscicultura por entender que muitos produtores precisam receber informações atualizadas e motivação para retomar a atividade. “Uma realidade desoladora aqui no Estado é que 70% dos tanques construídos estão parados e somente 30% estão em atividade, no que se refere aos pequenos produtores. Precisamos nos unir para fortalecer o setor e aproveitar todo o potencial da piscicultura”, acrescenta.
Nesse ano de 2015 haverá uma expansão do Programa e a equipe técnica do Senar/MS agenduou para o mês de maio, uma série de visitas aos piscicultores de Campo Grande, Terenos e Jaraguari para divulgar o trabalho de ATER da Piscicultura e mobilizar novas turmas. Os produtores interessados em participar da assistência técnica e extensão rural podem se dirigir ao Sindicato Rural da sua região e buscar esclarecimentos sobre o programa.